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domingo, 20 de março de 2011

Tolerância zero: os efeitos da irritação

A raiva é emoção importante para a colocação de limites, embora prejudicial quando vira irritação
O que não mata, fortalece, já dizia o filósofo Friedrich Nietzsche. Mas, quando se trata de uma emoção que resulta quase sempre em ação e comportamento repetitivo, vale a pena tomar bastante cuidado.

Reavaliar a conduta individual e coletiva em relação à raiva é de extrema importância, não somente por evitar atitudes reativas e de violência sempre crescente. Mas, sobretudo, porque o próprio indivíduo colérico, que reclama e esbraveja por tudo, acaba prejudicando a própria saúde e das pessoas ao seu entorno com quem convive de perto.

Nada engraçadoUm personagem famoso, do programa humorístico Zorra Total, foi por muito tempo ícone de uma brincadeira que deveria ser levada a sério e compreendida mais a fundo. Quando o personagem, que recebeu a alcunha de "tolerância zero", impunha seu bordão "Não me irrite, não me irrite!", já estava revelando seu grave problema de temperamento e consequente comportamento intolerante, o qual se dissemina no coletivo sutil e sorrateiramente sob diversas formas de doença, com uma raiz única e palpável - a irritação.

Na agitada vida moderna, a irritação parece passar "batido"pela quantidade de irritados que andam por aí. Ela é causa de danos sérios à saúde e ao bem-estar. Seu mecanismo interno e externo observado e compreendido evita perda de energia e sofrimentos desnecessários.

O estudioso Torkon Saraydariam, autor da obra "Irritação, o fogo destruidor" (Editora Aquariana) lembra as palavras bíblicas de advertência de Jesus Cristo: "Não deixe o sol se pôr sobre sua cólera". Observa ser a cólera uma forma violenta de irritação e, em determinadas estratégias de guerra, há relatos de que os chineses costumavam alimentar os inimigos com o fígado de um galo, após tê-lo irritado, para enfraquecer a tropa adversária.

A serenidade, registra Saraydariam, é uma busca dos povos orientais, com tendência contemplativa. São esses mesmos que ensinam a não se alimentar quando estiver contrariado, pela circulação de substâncias venenosas liberadas no corpo.

A psicóloga Susan Andrews, que desenvolveu a Biopsicologia, em suas palestras sobre o uso produtivo do estresse informa que cinco minutos de irritação ou raiva representam mais de cinco horas de adrenalina e cortisol (hormônios produzidos pela glândula supra renal) trafegando na corrente sanguínea. 

Ambos hormônios enviam o comando ao corpo de lutar ou fugir - dentre outras ações - aumentando rapidamente a pressão arterial, os batimentos cardíacos e as taxas de açúcar no sangue, além de suprimir o sistema imunológico. Seu excesso, dentre outras coisas, provoca alergias e inflamações. Por isso mesmo, o cortisol é utilizado na forma sintética, como medicamento para esses dois problemas.

Saraydarian relata o caso de uma família em que o homem ao sentar à mesa para jantar, a esposa fazia um relatório negativo dos filhos. Passou a evitar o jantar, justificando-se que não conseguia digerir o alimento ao comer em casa, pois sua mulher "envenenava seu humor".

Acordar o dragão
O veneno produzido pela raiva e irritação é sempre mostrado aos pacientes pela cardiologista Márcia Holanda. Os irritados costumam ser descritos como do tipo "A", ou seja, os rabugentos, enfezados, popularmente conhecidos como "pavio curto".

A intolerância e a irritação tendem a se agravar com a idade, esclarece a cardiologista, principalmente quando as pessoas já começam a sofrer alterações cognitivas devido também à baixa circulação cerebral. "O irritado costuma ser impaciente, ansioso, quer fazer 10 mil coisas ao mesmo tempo. Com isso há liberação de adrenalina e cortisol com picos hipertensivos e de angina, podendo chegar até a desencadear um enfarte", diz.

Já a especialista em Medicina Tradicional Chinesa e acupunturista, Sheila Bombonato, avalia ser a irritação, expressa ou não, um alerta de que não se está no devido centro do equilíbrio. "Uma arbitrariedade do chefe, um vizinho folgado que despeja o lixo na frente de sua casa, um abuso de alguém que fere os princípios da boa convivência (como uma fechada no trânsito ou, mesmo, o pobre inocente pedestre que atravessa o seu caminho na ´hora errada´), podem a qualquer momento acordar o dragão raivoso que reside em cada um de nós", pontua.

Alguns ´gatilhos´ para a irritação têm se recebido muitas justificativas - do ponto de vista humano e social. Convencionou-se dizer serem ´motivos legítimos para irritar-se´ . É comum se achar normal a irritação mediante abusos da boa vontade e conduta. E, questiona: "quem já não se irritou com um espertinho que fura a fila do ônibus na qual você passou mais de uma hora esperando, enfrentando toda sorte de empurrões e xingamentos? E tantos outros exemplos de incômodos, abusos, egos feridos, caprichos não correspondidos e, em outro ângulo, reações a certas injustiças e tiranias?"

A razão para tanta irritação, salienta a acupunturista, depende mais de uma condição interna do que propriamente de um fator externo. "Um indivíduo equilibrado, ou centrado em suas emoções, enfrenta as mesmas situações de modo sinceramente tranquilo, sem abalos ou danos, seja a si mesmo ou a terceiros".

Confirma suas palavras Dra. Márcia Holanda, lembrando que a personalidade do tipo "A" conta com variantes, daquele que explode, colocando sua ira para fora ao outro que engole, tentando controlar sua irritação. Ambos vivem em desequilíbrio e correm risco altíssimo de ter algum evento cardiovascular.

A cardiologista costuma fazer um interrogatório minucioso para checar a dimensão psicoemocional dos pacientes. "A pessoa que conta com a personalidade do tipo "B" é a que se mantém mais em equilíbrio. Expressa melhor o que lhe desagrada e concilia suas emoções de modo a administrar estresse e frustrações".

Sheila Bombonato alerta para não se confundir irritação com raiva. Embora relacionadas, a raiva é uma emoção primordial sem a qual, circunstancialmente, não se encontra força e coragem para enfrentar adversidades, injustiças e situações de preservação da própria vida.

A irritação pode surgir repentina ou insidiosamente. Em geral, causa danos a terceiros e ao seu ´portador´, comenta Sheila. É preciso estar atento ao seu papel na vida de cada um: "A depender da frequência ou intensidade com que ela se manifesta, seja expressa ou não, pode ser um sinal de algo errado a ser modificado. Às vezes até com certa urgência, sob risco de algo mais grave vir a acontecer do ponto de vista da saúde física e mental".

Para a MTC, a irritação pressupõe acometimento da função ´madeira´, à qual pertencem o fígado e a vesícula biliar. "Pode advir de diversas causas, como emocional, alimentar, fatores genéticos e até mesmo climáticos". E a raiva, contida ou expressa, também pode se manifestar como irritação, explica Sheila, citando Jeremy Ross, um teórico da MTC que fala da raiva e irritação a qual desta deriva. Defende ser comum a supressão dessas emoções, seja por se temer as consequências de sua expressão ou por julgá-las como erro.

"Muitos indivíduos com acometimento do elemento madeira, e neste caso os chamados tipos madeira "yin", suprimem sua raiva, ou irritação, querendo parecer bondosos e agradáveis. Contudo, o resultado dessa não expressão pode se dar na forma de cefaleias, acidentes vasculares, síndrome do colo irritável, infartos, dentre outros".

Sheila prossegue com Ross, que justifica a madeira ter energia de expansão, sendo e elemento do nascimento, do crescimento e da auto-expressão. Seu acometimento gera os tipos madeira "yang" (aqueles que tentam usar as pessoas como expressão do próprio ego, ficando facilmente frustrados e irritados quando não logram êxito). 

A irritação e falta de habilidade acabam por colocá-los em situações difíceis, do ponto de vista social e clínico. Tanto o tipo madeira "yang" como o "yin" devem buscar lidar com a própria raiva, sem temê-la ou sentir-se em desacordo com a mesma. Tal atitude, completa Sheila, aumenta a própria força interna e os torna menos suscetíveis à impaciência e irritação, sendo um processo que requer disciplina e constância para chegar a bom termo.

Dra. Márcia Holanda fala de um terceiro tipo, hoje descrito como tipo "D", que são os pacientes depressivos, pessimistas e com pensamento negativo. Estes sentem muita culpa e raiva de si mesmos. A irritabilidade pode também dominá-los, com as consequências da liberação dos hormônios adrenalina e cortisol e subsequente impacto no aumento da frequência cardíaca, respiratória, taquicardia, arritmia, crise hipertensiva e danos ao sistema cardiovascular.

Torkom Saraydariam escreve que as causas da irritação são variadas, a maior parte delas centradas na imagem que o ego cria do ser, usando a força de vontade para conseguir o que deseja e na hora que quer. Os antídotos em relação a ela são o cultivo da paciência, a calma, a gratidão e, principalmente, o silêncio.

Saúde
"O irritado está mais sujeito a problemas do coração e contamina seu ambiente"Marcia Holanda
Médica, cardiologista, especialista em psicossomática

ProteçãoPara se proteger da irritação, Torkon Saraydarian sugere:
Rosas colocadas no ambiente;
Óleo de absinto ou almiscar;
Sentimento de Alegria;
Gestos de Amor;
Sentimento de Gratidão;
Desprendimento Cultivo da paciência;
Colocação de Ordem;
Nutrição correta;
Sono apropriado;
Mudar periódica de residência;
Orar com constância;
Humildade, coragem e dignidade.

Fonte: "Irritação - O Fogo Destruidor"

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Por Marcos Silva